Proudhon em obtuários
Em 19 de janeiro de 1865, falecia Pierre-Joseph Proudhon, em Paris. Em 19 de fevereiro do mesmo ano, o Diário do Rio de Janeiro publica uma crônica, de autor desconhecido, sobre o funeral do eminente filósofo e rebelde francês.
Destaco cinco fatos interessantes desse evento:
1) Proudhon é descrito como "celebre philosopho e economista", atestando sua fama à época, e que a publicação de crônica sobre seu funeral em um jornal brasileiro apenas reforça. Outras classificações sociais são: "escriptor eminente" e "homem de bem".
2) O cronista diz que Proudhon morreu paupérrimo, sem deixar dinheiro para o próprio enterro. O que indica a sua condição de classe, socialmente distante da fábula marxiana sobre o rebelde ser um pequeno-burguês. O texto ainda atesta que o "partido democrata tomou a si sustentar a viuva e educar os filhos do illustre e pobre escriptor".
3) Houve considerável multidão durante o enterro, composta, inclusive, por "numerosas deputações de estudantes", em Passy, Paris. E, segundo o texto, também por aqueles a quem Proudhon criticou em seus escritos. Entre os "nataveis", estava o futuro etnógrafo e anarquista francês Élie Reclus, na casa dos 38 anos, irmão mais velho do célebre geógrafo libertário Élisee Reclus.
4) O cortejo foi interrompido duas vezes por bandas marciais que, por acaso, estavam de passagem pela rua Passy. Contudo, os coronéis que guiavam os seus regimentos fizeram calar a música e saudaram o "cadaver com a espada". Após uma hora de cortejo, o corpo de Proudhon chega ao cemitério.
5) O cronista diz que Proudhon se manteve lúcido nos seus últimos dias de vida e recusou receber o padre para sua absolvição, tendo declarado a senhora Proudhon que "é a vós a quem peço a absolvição".
Raphael Cruz
Referência
Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1865, p. 01. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/19624
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