O camponês em Graciliano Ramos

Graciliano Ramos (1892-1953)


As primeiras impressões de leitura de Vidas Secas (Ramos, 2020), revelam-me um autor de escrita enxuta, objetiva, sem os floreios de um Guimarães Rosa (2016). 

Isso muito me agrada, apesar de também gostar do "barroquismo coloquial" do autor das Veredas. 

Essa escrita "feito faca", telegramática, que corta as mediações, o arrodeio, a própria gordura narrativa, soou-me muito seca no início. Contudo, entendi funcionar como recurso estético na obra. 

Uma escrita tão seca quanto o sertão representado por Graciliano Ramos, como a vida dos seus personagens.

Contudo, algo me incomodou do início ao fim do livro: a redução do sertanejo a um "bruto". Ele pouco se articula verbalmente, tem "ideias fixas" e simplórias, é confuso quanto ao que deseja, e apenas sofre, sofre e sofre. 

Os sertanejos de Ramos, são "fortes", no sentido de Euclides (1998), mas só isso.

A esperteza do pobre, que tanto abunda em Suassuna, e é a "arma dos fracos" na sociologia de James Scott (2002), não dar o ar da graça em Graciliano.

Chegou-me a incomodar a estreiteza psicológica dos personagens. 

Os sertanejos que conheci, estão longe dessa representação.

O agenciamento dos personagens é para garantir o básico, isto é, a sobrevivência em condições adversas. Isto já daria um bom pano para explorar a inteligência deles a partir do conhecimento camponês. 

Raphael Cruz


Referências

CUNHA, Euclides. Os sertões: campanha de Canudos. São Paulo: Ática, 1998.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2020.

ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

SCOTT, James C. Formas cotidianas da resistência camponesa. Raízes: Revista de Ciências Sociais e Econômicas, v. 21, n. 1, p. 10-31, 2002.

SUASSUNA, Ariano. Auto da compadecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

Observação: escrevi esse texto em 15 de abril de 2021. E o revisei em 16 de outubro de 2022.


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