Zizek e a escrita

Slavoj Žižek (1949 -)


Ganhei de presente o livro de Zizek Às portas da revolução

A escrita do autor é bastante digressiva, o que me fez lembrar o estilo de Bakunin, com suas constantes mudanças de tema, apesar de, no fundo, está abordando o mesmo assunto através de outros vieses. 

Encantou-me bastante como o autor "mistura" política, cinema e psicanálise. 

Ele começa falando da teoria e prática de Lenin, pega um fato ocorrido na vida dele e começa analisar a parte psicológica deste fato, faz uma ponte com algum filme norte-americano e por fim volta a Lenin.

Zizek meio que é o intelectual do momento, ele mistura Lacan com Marx, faz uma interessante crítica ao multiculturalismo e as teorias pós-modernas. Defende não um retorno a Lenin, mas o “repetir do gesto leninista.”

Em um documentário, Zizek explica como é o seu método de escrita, que achei semelhante ao meu.

Para o autor é impossível sentar e escrever. Ele não começa Escrevendo, com “e” maiúsculo.

Ele apenas inicia anotando ideias, depois essas ideias se dividem em duas ou três, ai ele começa a desenvolver cada uma delas, quando ele se toca já está editando o material que escreveu e pondo notas de rodapé. 

No fim toma consciência de que já escreveu.

E tudo começa despretensiosamente apenas anotando ideias.

Foi assim com a maioria dos textos que escrevi também. Li ou ouvi algo, ou simplesmente tive uma ideia, me inspirei e comecei a desenvolver um pensamento. Depois vieram outras ideias e comecei a desenvolvê-las, "quando vi" estava com um texto.

O mais interessante de Zizek são suas “sacadas”. 

Isso torna seu pensamento muito refrescante, muito iluminado, realmente bom e faz seguir até o fim da leitura, apesar de todas as mudanças de foco, mas não de tema, que o autor faz. 

Quando digo sacadas me refira a afirmação dele de que os atentados de 11 de setembro nos EUA foram o equivalente ao XX Congresso do Partido Comunista Russo. 

Ou então descobertas que ele revela, do tipo, a maioria do corpo pertencente a juventude hitlerista advinha da polícia da social-democracia alemã que ajudou a reprimir os espartaquistas.

Essas sacadas possuem um valor teórico, passadas através de uma leveza, como se estivéssemos conversando com um amigo numa mesa de bar.

E acho que isso é parte fundante do pensamento dele, pois é constante as notas de rodapé citando que ideias suas e trechos de seus livros surgiram

em conversas informais com ouros intelectuais, como Alain Badiou, por exemplo.

Raphael Cruz


Referência

ŽIŽEK, Slavoj; LENIN, Vladimir. Às portas da revolução: escritos de Lenin de 1917. Boitempo Editorial, 2005.

Observação: esta postagem foi revisada em 16 de outubro de 2022.

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